08 maio 2012

Deserto da minha vida

A realidade

O vento açoitava o meu rosto e a areia cortava a minha pele. O sol escaldante se encontrava à pino. Todos esses elementos pareciam ainda mais terríveis em cima da duna mais alta que a minha vista conseguia alcançar. Em todas as direções a única coisa que eu conseguia ver era apenas aquele mar de areia, sufocante, solitário e tenebroso. A imensidão daquele ambiente hostil oprimia a minha alma.
O desespero da situação trouxe à minha mente as questões do porquê aquilo estava acontecendo comigo, como eu tinha chegado àquele lugar, quem estava fazendo aquilo comigo. Eu não conseguia entender a insanidade daquele momento.
- Por que eu? -  eu pensava.
- Eu sou um cara comum. Trabalho em um serviço de escritório de uma grande empresa. Tenho uma vida normal, trabalho-casa, casa-trabalho. Às vezes eu saio para me divertir. Mas não há nada na minha vida que a torne diferente, que a torne digna de interesse de alguém. Por que alguém me tiraria da minha zona de conforto e me colocaria nesta situação difícil.
Esses pensamentos cortavam a minha mente em uma velocidade avassaladora transformando-os em uma dor lancinante para minha existência, para o meu ser. Esse estado de coisas me deixou em paralisia não sei por quanto tempo. Talvez tenham sido horas, dias ou apenas minutos, a única coisa que eu sei é que diante do torpor da minha alma eu não pude perceber a passagem do tempo. Se houver descrição viável da miscelânea de  sentimentos e pensamentos que invadiam o meu ser eu poderia dizer que eu via o tempo passar com lenta rapidez, pois conforme eu era atingido por ondas sensações eu via as coisas a minha volta se passarem muito lentamente.
Passado o choque inicial comecei a colocar os pensamentos em ordem e vi que as perguntas que eu tinha feito até ali não levariam a nenhum lugar. O que era mais urgente era resolver aquele problema que se me apresentava e depois tentar responder minhas indagações.
Pensei de forma confiante:
- Sou acostumado a lidar com problemas complicados que envolvem milhões e muitos interesses e nunca me assustei com isso. Muito pelo contrário. É isso que me move. É isso que me fez chegar até a posição em que cheguei. É isso que me faz seguir adiante e que me faz querer mais. Ora essa realidade que me foi imposta agora, não é mais complicada do que outras situações com as quais eu já tive de lidar.
Eu não fui trazido aqui por mágica nem fui jogado de um avião. Então eu devo estar relativamente próximo de algum lugar. Basta eu caminhar que vou encontrar esse lugar. Tudo o que eu tenho de fazer é encontrar o rastro de quem me trouxe aqui.
Com a confiança recém adquirida, que na realidade escondia o meu desespero comecei a caminhar por aquele vasto deserto, com o vento sibilante em meio as suas infinitas dunas. Caminhei por não sei quanto tempo e cai exausto sem encontrar uma marca sequer de presença humana que pudesse indicar como eu fora levada para lá. Minha confiança se esvaneceu e eu comecei a pensar que talvez eu nunca fosse sair daquele maldito deserto, pois a realidade cambiante dele com certeza tinha apagado os rastros que seriam a minha salvação. Não havia esperança para mim. Eu não poderia esperar ser resgatado. Ninguém sabia que eu estava ali. Como, então, eu poderia esperar um surgimento miraculoso de um salvador. Não, não havia esperança para mim. Diante dessa amarga constatação continuei caminhando como uma forma de dar vazão ao grande vazio que tomou conta de minha alma na esperança de que quando todas as minhas forças se extinguissem eu perdesse a minha consciência e não visse a chegada da minha dolorosa morte por fome e sede.
Parecia que eu caminhava há horas, mas o sol parecia estar no mesmo lugar. Será que eu estava perdendo a sanidade e tinha perdido a noção de tempo. Mas se era isso como a perda da sanidade poderia ter ocorrido em tão pouco tempo, pois parecia que o sol não tinha se movido e se ele não tinha se movido fazia muito pouco tempo que eu estava naquela situação. Fui quando um pensamento assustador se apossou de mim. Era bem provável que já estivesse vagando pelo deserto há muitos dias e não tivesse mais lembranças disso.