14 maio 2007

Física metafísica (a ciência como religião)

Verifica-se cada vez mais a negação da religião em conseqüência dos chamados progressos científicos, que desmascaram o misticismo dos cultos às divindades ou à espiritualidade. No entanto, encontra-se a ciência revestida realmente da pretensa objetividade (quando falamos de objetividade, queremos dizer imposição do objeto ao sujeito, não sobrando espaço para qualquer impressão deste a respeito daquele) que lhe daria primazia sobre a religião, a qual restaria relegada a mera alegoria (ou seja, estórias que valeriam apenas pelo seu conteúdo moral)?
O primeiro ponto a ser ressaltado é que qualquer ciência (humana diria eu, pois se produzida por seres humanos só pode ser qualificada como humana) antes de ser quantitativa é qualitativa, pois apenas um juízo de valor aplicado aos fenômenos estudados permite identificar aquilo que deve ser observado. Só por esta constatação inicial fica afastado o caráter eminentemente objetivo das ciências ditas exatas, dentre elas a física, pois a observação depende de um juízo subjetivo daquilo que tem relevância nesta. Mas o argumento final contra cientificismo (nome bom para substituir misticismo) de nosso tempo é o fato de que a razão não é a medida de todas as coisas, ou melhor dizendo, a razão humana não é absoluta, pois o ser humano não é absoluto, do contrário seria Deus, não podendo, portanto, erigir-se em selo de existência de algo. Dito de outra forma, não é porque não somos (nós os seres humanos) capazes de entender algo, que isto não exista.
Assentado o ponto acima voltemos ao fato que nos levou a criar esta postagem, o fato de a física colocar-se como a ciência das ciências, a ciência que pode e deve explicar todos os fenômenos do universo, desde o comportamento das partículas elementares até manifestações culturais. Não é a toa que o graal dos fisicistas (em outros tempos diríamos alquimistas, mas ao utilizar este termo agora seriam cometidas duas impropriedades, a primeira anacronismo, a segunda é que a alquimia encontra-se mais ligada a química do que a física) é a teoria do tudo, ou melhor, a equação do tudo. De forma mais clara uma expressão algébrica, provavelmente escrita com poucos termos, tal qual e=mc2, que poderia explicar todo o universo, desde o bater de asas de uma borboleta até o seu pensamento mais íntimo e melhor ainda, com poder de prevê-lo.
Para entender melhor voltemos ao início de toda essa insanidade que chamam de ciência moderna, ou mais propriamente de física, último bastião de loucos de todo gênero.
Na década de 20 ou de 30 um sujeito chamado Edwin Hubble (não é mera coincidência o nome do telescópio se chamar Hubble) descobriu um fato intrigante. Todas as galáxias estavam se afastando da Terra. Você poderá perguntar como ele descobriu isso e o que é que tem demais nisso. Resposta para primeira pergunta. Ele descobriu que as galáxias se afastavam da Terra em decorrência do efeito doppler. Sim aquele mesmo do ultrassom. O efeito doppler é uma deformação provocada nas ondas quando a origem desta está se movendo em relação ao objeto que é atingido por elas. Esse efeito é sentido tanto em ondas mecânicas quanto eletromagnéticas. Um exemplo claro dele pode ser visto ou ouvido quando um carro que tem um som bem potente se aproxima de nós e o som parece que vai se tornando cada vez mais grave e quando ele se afasta parece que o som vai se tornando cada vez mais agudo. O meu leitor dirá, "o que raio tem a ver o som do carro com as galáxias", e eu respondo, tudo. O mesmo efeito que se verifica com o som ocorre com as ondas luminosas. Sim, pois para a física moderna a luz é tratada como uma das formas que as ondas eletromagnéticas podem assumir, aplicando-se boa parte das conclusões a respeito das ondas mecânicas a estas, tendo como principal exceção o fato de que estas não transportam matéria quando se propagam, como por exemplo as ondas do mar. Assim, é fácil concluir, que pelo efeito doppler, quando a origem de uma fonte de luz se afasta do observador as ondas luminosas que chegam aos olhos dele tendem a se alongar, ou melhor, diminuir a freqüência ou utilizando uma linguagem mais próxima da de um físico (sem qualquer pretensão de ser um desses loucos) se tornam menos energéticas, o que de certa forma ajuda inclusive a fixar a imagem do efeito doppler, pois quanto mais longe uma onda se propaga mais ela difunde sua energia. Lógico, não! E você achava que física era troço de outro mundo. Desta forma, a luz vinda das outras galáxias tendia de um estado mais energético para um nível mais baixo de energia, ou seja, tendia do azul para o vermelho, isso sem exceção. Provado que as galáxias estavam se afastando da Terra, sem exceção, qual a grande descoberta. Justamente esta, ao contrário do que poderia sugerir o senso comum em todo universo com todas as galáxias se movimentando em todas as direções não havia uma sequer que estivesse se aproximando da Terra. Estranho, não! Pois é, muita gente também percebeu isso e logo tratou de achar uma explicação lógica para isso. Pelo menos é isso que eles pensam que ela é. Qual foi? Olhar para as estrelas. Aí vocês dirão, "engraçadinho, é lógico que eles olharam para as estrelas, ou seja, para o universo para explicar esse fenômeno". Só que a verdade não é exatamente essa. Eles não olharam para nenhuma galáxia ou estrela existente, mais sim para o que dizia a teoria da relatividade em relação ao comportamento de estrelas massivas (as grandonas). O que acontece com estrelas no fim da vida útil delas (no caso das grandes)? Elas implodem, ou dito de maneira mais adequada, elas sucumbem sob o "peso" da força da gravidade, arrastando toda a sua matéria para o centro. Mas, segundo a teoria da relatividade, não é apenas isto que ela arrasta para o centro, ela arrasta o espaço e o tempo também, pelo fato de a gravidade ser vista pela teoria como uma distorção dessas duas entidades, ou melhor, do complexo espaço-tempo, pois o tempo para a teoria é visto apenas como um lugar no espaço. Muito bem, e onde é que essa conversa toda vai chegar? Vai chegar no ponto, literalmente falando. Ou seja toda estrela e o espaço em volta vão ser reduzidos a um ponto. Mas não é um ponto como você poderia imaginar, como por exemplo, o ponto final. O ponto da física é o ponto geométrico, ou seja, o ponto sem nenhuma dimensão. Aquilo que nós chamamos de ponto, por exemplo o ponto final pingado no fim de um período, na realidade tem as três dimensões se pensarmos da perspectiva da física, pois se usarmos um microscópio muito potente veremos que o ponto tem um raio (se ele fosse um círculo perfeito e em regra trata-se de um borrão, ou seja, a realidade não é muito dada a respeitar as convenções do intelecto humano), o que já o dota de duas dimensões. Utilizando um microscópio mais potente ainda, veremos que a uma parte da tinta fica entranhada sobre as fibras do papel, ou seja, ele tem altura. Em resumo, descarte a sua noção de ponto e tente imaginar um ponto como visto ou, como diriam os físicos, observado pela física. Tente imaginar uma coisa sem dimensão nenhuma. Sem altura, sem largura e sem comprimento. Conseguiu? Nem eu. Esse ponto não pode ser imaginado, pois como diz a palavra, imaginar é criar uma imagem e como é que se cria a imagem de algo que não tem nenhuma expressão espacial. Pois é, é isso que a física moderna diz que acontece com as estrelas grandes. Em síntese, elas se concentram em um ponto invisível, pois se ele não tem nenhuma dimensão é invisível no espaço. Mais o negócio não para aí não. Como a estrela arrasta o espaço-tempo junto, para esse ponto, o ponto vai atraindo cada vez mais o espaço-tempo, de forma que esse vai se concentrando até chegar no ponto, mas como ele não tem dimensão nenhuma aquele vai se concentrando infinitamente. Coloque a seguinte imagem em sua cabeça o ponto é uma nota de cem reais que está amarrada em um barbante que está preso em uma vara que está colocada em suas costas de forma que a nota fique a uma distância que os seus braços não possam alcançá-la. Muito bem, isso faz parte de um jogo no qual se você conseguir desempenhar a tarefa ganhará os cem reais. Qual é a sua missão? Pegar a cédula correndo atrás dela. "Epa! espera aí", você dirá, e completará com a seguinte constatação "toda vez que eu der um passo a nota se afasta um passo, então eu nunca vou conseguir pegá-la nunca". Pronto! você entendeu o que acontence com o espaço tempo-tempo e o tal ponto. Isso permite uma outra conclusão importante, o tal do ponto, então, fica fora do espaço e do tempo. Mais o que isso tem a ver com o universo? Tudo, segundo os físicos. Relembrando, descobriu-se que as galáxias se afastam da Terra, o que levou a conclusão óbvia de que só em uma hipótese isto seria possível, o universo está se expandindo. Mas não é como você está imaginando não. A expansão do universo é assim, espaço, veja bem, espaço, lugares, estão surgindo no universo. Vamos a um exemplo. Olhe para a sua casa e a do vizinho do lado. Provavelmente entre as duas casas só há um muro ou cerca. Mas imagine que um belo dia você chegue em casa e entre você e o vizinho haja uma nova casa em um terreno que não existia quando você saiu. Eis a tal expansão do universo que os físicos tanto falam. Você dirá "não acredito". Então passe acreditar. Prepare o seu estômago, porque ainda não terminou. Agora vem o "grand finale". Fazendo uma analogia entre o universo e a nossa amiga estrela que virou um ponto e revertendo a expansão para contração, o que nós temos? A origem do universo segundo a física moderna, ou seja, um ponto invisível, que não estava em lugar nenhum em um tempo antes do tempo. Ei, mas espera aí, não era a física que se colocava contra a narrativa sem sentido da religião? E isso aí em cima parece ter algum sentido? Para mim não.